O Studio Ghibli é um dos estúdios mais amados do mundo, um nome sinônimo de obras-primas da animação. No entanto, até mesmo as lendas possuem obras que dividem opiniões. Talvez nenhum filme do estúdio seja tão controverso e polêmico quanto Contos de Terramar (Gedo Senki), de 2006. Mas por que esta obra, visualmente tão bela, é considerada uma grande decepção por muitos?
Contexto e a Famosa Crítica da Autora
Antes de tudo, é preciso entender o contexto. Contos de Terramar foi o primeiro filme dirigido por Gorō Miyazaki, filho do lendário Hayao Miyazaki. A pressão era imensa, e o projeto, ambicioso. A maior controvérsia, no entanto, veio da própria autora dos livros que inspiraram o filme, Ursula K. Le Guin. Após assistir ao filme, ela expressou publicamente sua decepção, afirmando que, embora bonito, a história não era a dela e que o roteiro havia perdido a profundidade e a mensagem filosófica de sua obra.
Resumo Completo da Trama (Com Spoilers)
O filme começa de forma chocante: o Príncipe Arren, acusado de assassinar seu próprio pai, o rei, e foge do castelo com a espada mágica dele. Enquanto vaga pelo deserto, ele é salvo de lobos pelo Arquimago Gavião (Sparrowhawk), que investiga um estranho "desequilíbrio" que assola o mundo, fazendo com que a magia enfraqueça e os dragões reapareçam. Juntos, eles viajam para a cidade de Hort, onde Arren quase é capturado por caçadores de escravos, mas é salvo novamente por Gavião. Eles se refugiam na fazenda de Tenar, uma velha amiga de Gavião, que cuida de uma jovem misteriosa e com o rosto marcado por uma queimadura, Therru. Enquanto Arren lida com uma sombra que o persegue, o feiticeiro Lorde Cob, que busca a imortalidade, captura Gavião e Tenar, forçando Arren e Therru a confrontá-lo em seu castelo.
A Análise: Os Problemas da Adaptação
Apesar da beleza visual típica do Ghibli, o filme sofre com problemas narrativos profundos que justificam as críticas.
Uma Adaptação Confusa
O principal problema é o roteiro. Gorō Miyazaki tentou mesclar elementos de vários livros da saga Terramar em um único filme de duas horas. O resultado é uma história que parece apressada e confusa. Temas complexos como o equilíbrio entre a vida e a morte, o poder dos nomes e a natureza do mal, que são o coração da obra de Le Guin, são abordados de forma superficial, perdendo todo o seu peso filosófico.
Um Protagonista Difícil de Acompanhar
Arren é um protagonista problemático. Sua motivação para o ato de patricídio que inicia o filme nunca é devidamente explorada ou justificada, tornando-o imediatamente antipático. Durante a maior parte da trama, ele é passivo, medroso e consumido por uma angústia sem uma causa clara para o espectador. Essa falta de agência e de um conflito interno compreensível faz com que seja muito difícil para o público criar uma conexão ou torcer por ele.
O Tom Sombrio e o Ritmo Lento
Diferente de outros filmes do Ghibli que equilibram momentos sombrios com um forte senso de maravilha, aventura e esperança, Contos de Terramar é uma obra implacavelmente sombria e melancólica. Essa atmosfera pesada, combinada com um ritmo muito lento e contemplativo, torna a experiência cansativa para muitos, faltando a centelha de magia que consagrou o estúdio.
Conclusão: Um Visual Lindo, uma História Vazia
Respondendo à pergunta do título, Contos de Terramar decepcionou porque, apesar de carregar o selo de qualidade visual do Studio Ghibli, sua narrativa falha em se sustentar. A adaptação confusa, o protagonista pouco cativante e o tom excessivamente sombrio resultaram em um filme que não faz jus nem à riqueza do material original, nem ao legado de seu próprio estúdio. É uma obra bonita de se ver, mas difícil de se conectar.
Você concorda com a análise? Ou é um dos defensores de Contos de Terramar?